domingo, 21 de setembro de 2014

IV Olimpíada de Língua Portuguesa (Etapa Criciúma)

As professoras Eliane Teza Bortolotto e Ana Lúcia Pintro da escola EMEF Padre José Francisco Bertero montaram videoclipes para homenagear os alunos classificados para a etapa estadual da IV Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Os textos foram gravados por Jonatan Lopes, locutor da Rádio Transamérica. A ideia de gravar os textos e publicar no You Tube tem como objetivo divulgar o potencial dos alunos e tê-los como inspiração para trabalhos futuros.

A Secretaria de Educação de Criciúma pediu a colaboração da escola para gravar também os textos das demais escolas do município.  Os videoclipes serão apresentados no Primeiro Fórum Catarinense do Livro e da Leitura, que acontecerá no dia 23 de setembro, no Teatro Elias Angeloni.
Os textos nas categorias Poema, Memórias Literárias, Crônica e Artigos de Opinião foram ilustrados com imagens da cidade de Criciúma.
Clique no título do texto para assistir o videoclipe.
Categoria Poema:
Escola Municipal Pe. José Francisco Bertero
Aluna: Maria Alice Barchinski Peruchi
Escola Municipal Profª Iria Zandomenego
Aluna: Vitória Strasburg
Escola Municipal Giacomo Zanette
Aluna: Stephany Gonçalves Apolinário
Categoria Memórias literárias:
Escola Municipal Pe. José Francisco Bertero
Aluna: Camille Mezzari Generoso
Escola Municipal Hercílio Amante
Aluna: Luiza Zanette Pizzoni
Categoria Crônica
Escola Municipal Pe. José Francisco Bertero
Aluna: Jéssica Sipriano de Freitas
Escola Municipal Dionizio Milioli
Aluna: Renata Paraol de Souza
Categoria Artigo de Opinião
Escola Básica Irmã Edviges
Aluno: Júlio Fernandes Silveira

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

4ª Edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro



Nesta segunda-feira (15/9) a EMEF Padre José Francisco Bertero apresentou os textos das suas alunas que foram selecionados pela Comissão Julgadora de Criciúma para participar da etapa estadual da 4ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.
Os alunos foram reunidos no salão do centro comunitário, porque a escola está em reformas e estão alojados no Centro Catequético do Bairro São Simão. Para homenagear as alunas, seus textos foram gravados pelo locutor Jonatan Lopes da Rádio Sul América e uma apresentação com fotografias da cidade foi criada. A professora de Língua Portuguesa, Eliane Teza Bortolotto conta: “Ficamos muito surpresos com os resultados, porque não esperávamos que todos os trabalhos enviados ficassem entre os selecionados. Então decidimos fazer uma homenagem que marcasse a divulgação desse resultado. Os textos em áudio com um fundo musical nos tocaram tão profundamente, que foi inevitável não chorar.”
A escola teve trabalhos selecionados em três categorias: o poema “Retrato de uma terra boa” da aluna Maria Alice Barchinski Peruchi, a crônica “Heróis sem nomeda aluna Jéssica Sipriano de Freita, e o texto de memórias literárias “Sinaisdo tempo, marcas de saudade” da aluna Camille Mezzari Generoso.
 

domingo, 14 de setembro de 2014

Heróis sem nome



Apresentaremos a crônica “Heróis sem nome” selecionada pela Comissão Julgadora de Criciúma para participar da etapa estadual da 4ªedição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.
A crônica foi escrita pela aluna Jéssica Sipriano de Freitas, sob orientação da professora Eliane Tezza Bortolotto, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre José Francisco Bertero.
https://www.youtube.com/watch?v=zTD6QiWQ5Z0&feature=youtu.be
Heróis sem nome

     Carros passam diariamente em frente a minha casa, mas neste dia, às três da tarde, um carro diferente chama minha atenção.
     Ele é branco e os vidros são escuros, por isso não posso ver o motorista, mas posso ver uma grande caixa de som cuidadosamente presa ao teto do automóvel.
     O carro se desloca lentamente através da estrada com a caixa de som ligada aparentemente no volume máximo. O som é tão alto que quando se aproxima mais, chega a machucar meus ouvidos os quais tento proteger, cobrindo-os com minhas mãos.
     Assim que ele está a uma distância confortável, paro para escutar. O automóvel anuncia o próximo jogo do Criciúma, time que carrega o mesmo nome da minha cidade, convocando os torcedores para irem ao estádio Heriberto Hülse empurrarem o "Tigre" para mais uma vitória.
     Quando o anúncio acaba, o hino do Criciúma começa a tocar e, por algum motivo, eu começo a prestar atenção no que cada verso da canção fala. Os primeiros, em especial, chamam a minha atenção: "Lembrando os heróis do passado que escreveram seus nomes na história..."
     A frase ressoa em minha cabeça repetidamente enquanto eu observo ao longe as folhas de uma palmeira e, por um instante, parece que elas se movem ao som do hino.
     Sem motivo aparente, me pego pensando sobre quem seriam os heróis do passado. Os ex-jogadores do Criciúma Esporte Clube, antigo Comerciário? Os prefeitos, que governaram essa cidade com sabedoria? Não sei.
     Sempre que alguém menciona Criciúma, o que vem de forma imediata a minha mente é "Cidade do Carvão". Carvão esse que foi comprovadamente um dos principais responsáveis por alavancar o progresso da cidade. Carvão esse que foi extraído de minas por homens que arriscavam suas vidas todos os dias com nada além de um par de botas e um capacete, armados apenas com sua coragem. E ninguém sequer sabe quem são esses homens.
     Eles são anônimos, mas fizeram muito mais pela nossa cidade, me arrisco a dizer, do que qualquer um. Eles fizeram história, mas onde escreveram seus nomes? É comum encontrar praças, ruas, ginásios, estádios, instituições com nomes de políticos, de empresários, mas não com o nome de um mineiro.
     Aliás, o único espaço público que eu conheço em minha cidade que preste uma homenagem a esses bravos guerreiros é o monumento ao mineiro, que fica na Praça Nereu Ramos, no centro da cidade. "Aos homens do Carvão", diz a inscrição. Homens do carvão, sem nome próprio, sem sobrenome. Anônimos, generalizados sob o título de mineiros, representados na praça do monumento por uma fria estátua de bronze.
     Eu conheço um mineiro. Meu pai, o homem mais corajoso que já conheci! Lembro de quando ele saía de casa durante a madrugada para ir trabalhar, tomando cuidado para não acordar ninguém. Lembro de quando eu não queria ir dormir, porque sabia que quando acordasse meu pai não estaria mais ali. Lembro de todas as vezes em que me sentava perto dele, preparada para escutar atentamente mais uma história.
     Em uma dessas histórias que escutei muito mais de uma vez, meu pai contava que ele e um grupo de mineiros quase morreram trabalhando. Então me pergunto quantas vezes isso deve ter acontecido em outras minas, com outras pessoas. Será que essas outras pessoas tiveram a sorte de sobreviver, assim como meu pai? Ou será que elas se foram dessa vida, silenciosamente, anonimamente como viveram, sem deixar seus nomes na história?
     Quantos milhares de homens morreram embaixo de minas e sem eles quantas famílias fraquejaram? Quantos órfãos de pais heróis, quantas esposas desconsoladas esses homens deixaram para trás?
     Volto a observar o movimento na estrada e ao longe ainda consigo ouvir o carro a tocar o hino. Sorrio, ouvindo os primeiros versos da canção, desta vez sabendo com convicção a resposta a minha pergunta inicial: quem são os heróis do passado?
     Para mim, os heróis do passado não são ex-atletas, nem ex-políticos, nem ninguém reconhecidamente famoso. Eles são pessoas comuns. Pais de família. Homens anônimos. Seus nomes poucos conhecem, mas seus exemplos fizeram e continuam fazendo a história desse chão, da minha Criciúma, sempre Capital do Carvão.  

Parabéns Jéssica!

Sinais do tempo, marcas de saudade



Apresentaremos o texto de memórias literárias “Sinais do tempo, marcas de saudade” selecionado pela Comissão Julgadora de Criciúma para participar da etapa estadual da 4ªedição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.
O texto de memórias foi escrito pela aluna Camille Mezzari Generoso, sob orientação da professora Eliane Tezza Bortolotto, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre José Francisco Bertero.
https://www.youtube.com/watch?v=G2dfgUF8dEE&feature=youtu.be
Sinais do tempo, marcas de saudade
     Parece que foi ontem que ainda menina ia à escola com meus irmãos, sentindo as pedras da estrada machucarem meus pés, pois as sandálias de dedos já estavam gastas.
     O caminho era longo, cheio de árvores, pássaros, plantações de milho e cana-de-açúcar. Bom, pelo menos a paisagem que enchia de verde nossos olhos e a orquestra que brindava de graça nossos ouvidos compensava o cansaço e a dureza da caminhada.
     Minha professora era rígida e ainda posso sentir a lembrança da régua a me bater, sem grande motivo. Na volta pra casa, pegava uma cana-de-açúcar para aliviar a fome. O doce sabor da cana me traz água na boca. Gosto de infância!
     Tenho saudade das brincadeiras com meus irmãos, da algazarra nas refeições, da alegria nas festas em família e das noites de lua cheia quando nossa folia irritava os vagalumes, que riscavam o céu com suas pequenas lanternas. Nas laranjeiras fazíamos competições: quem chegasse ao topo mais rápido, ganhava. O prêmio ao vencedor? Ser o vencedor! Lá no alto podíamos admirar os ninhos dos passarinhos, conversar coisas de irmãos, falar sobre nossas dúvidas e medos, contar segredos e até algumas mentiras, que de tão inocentes nem era pecado contar. Nos sábados à tarde, com o sol faiscando, íamos brincar num riozinho de águas limpas, sem poluição, onde os peixes nadavam tranquilos e ainda tomavam parte nas brincadeiras, pois beliscavam nossas pernas, dividindo gentilmente conosco um espaço que era deles. Quanta alegria!
     Ajudar minha mãe era meu serviço, já que minhas irmãs eram pequenas e meus irmãos iam com meu pai para a roça. O trabalho era cansativo e às vezes minhas mãos de menina reclamavam tantas tarefas diárias. As mesmas águas do rio nem sempre serviam à diversão, pois era ali que lavava roupa todos os dias.
     Quando o sol pintava de fogo o horizonte, era hora de voltar para casa e como não tínhamos luz elétrica, as noites eram longas e misteriosas, cheias de ruídos de sapos, grilos e outras criaturas da noite. Ao amanhecer, ouvíamos o canto dos passarinhos e do galo anunciando um novo dia.
     Mas essa natureza que preenche meu álbum de recordações com tão belas gravuras, também me traz lembranças trágicas, como as tempestades e seus raios, que como flechas impiedosas faziam suas vítimas. Perdi um irmão e um primo atingidos por raios, o que era comum naquele tempo onde havia poucas casas e grandes áreas desabitadas. As enchentes também eram devastadoras e a pior foi a de 1974. Foi em cima da armação da casa sem forro que colocamos o que de mais valor tínhamos com medo de que as águas invadissem tudo. Dias e noites de vigília. A tristeza abalava a todos, pois perdemos desde plantações até animais, que eram os mais afetados, pois não havia abrigo para todos. A força das chuvas fazia nossa velha casa de madeira balançar, deixando a todos amedrontados.
     Quando a chuva parou e a água abaixou, o cenário a nossa frente tinha muito pouco daquele que nossos olhos conheciam de cor, mas não era hora de fraquejar e sim de recomeçar. E foi o que fizemos.
     Nos domingos íamos todos à igreja. Isso era sagrado para meus pais, assim como a reza diária do terço. Era na fé que encontrávamos forças para lutar, mesmo depois de tantas perdas.
     O tempo passou e o interior de Jacinto Machado não oferecia muitas oportunidades de trabalho. Mudei-me para Criciúma depois do Ensino Médio completo e com meus 33 anos na mala. Morar na Capital do Carvão era um desafio e a adaptação há 18 anos não foi tão fácil assim. Foi um choque para os meus olhos acostumados com tanto verde, com a calma e o silêncio viver num lugar onde tudo anda tão rápido. Pessoas sempre apressadas, muitos carros, prédios, barulho e cheiro de progresso.
     Mas aqui era agora meu novo lugar, onde construiria a minha família, o lugar do meu futuro, da continuação da minha história, lugar que me recebeu de braços abertos e me presenteou com tantas coisas boas!  E foi esse o pedaço de chão que escolhi para viver outros sonhos.
     No baú das recordações passadas ficou minha terra natal e, vez ou outra a saudade vem me visitar, mas olhando o hoje e o horizonte do futuro é aqui em Criciúma que eu me vejo e em nenhum outro lugar.

Parabéns Camille!