Ana Cousseau para o Jornal de Cocal
Tenho uma vaga lembrança da primeira vez que vi uma calculadora. Eu queria mexer, mas não me atrevia “porque não era minha e podia estragar”, segundo meus pais. E, acrescentavam: “Isso é coisa de preguiçoso! Nunca vamos gastar dinheiro com essa porcaria que serve para estragar os alunos.” É claro que essa novidade estava muito distante dos bancos escolares, naquela época.Depois de algum tempo, quando eu cursava o Magistério, via minhas colegas falando sobre algumas das funções que haviam descoberto. Minha curiosidade aflorava, porém, eu ainda não tinha uma dessas máquinas de calcular e me contentava em observá-las realizando operações com as teclas conhecidas e observando os resultados precisos e magicamente obtidos.Passado mais um bom tempo, prestes a ter meu diploma de Licenciatura Plena em Matemática, tive um professor chamado Lenoar. Jamais esquecerei da caixa de calculadoras científicas que ele levou para a faculdade, numa certa manhã de sábado. Foi então que, aos vinte e cinco anos de idade, tive a chance de aprender a usar uma tecnologia que sempre admirei. Essa aula foi um marco na minha vida: desde então, tenho me dedicado a explorar os recursos das calculadoras e buscado conhecer maneiras inteligentes de aplicá-las na aprendizagem de matemática.Tomo a liberdade de relatar um comentário que retirei de um vídeo elaborado pelo Ministério da Educação e intitulado “Fazendo matemática na sala de aula”. Um dos principais educadores do Brasil, Ubiratan Dambrósio, afirma:“Uma das coisas mais intrigantes no sistema escolar é a resistência dos professores à incorporação de tecnologia plena nas suas aulas. Há professores que resistem à utilização de calculadoras e insistem em se dar matemática achando que há alguma importância em colocar um número embaixo do outro e fazer uma adição, uma multiplicação. Isso na História da Humanidade foi um período muito curto e não foi essencial para a grande criatividade que a espécie humana tem mostrado desde a pré-história. O que é condizente à criatividade e vale à pena é a utilização total do que se tem disponível naquele momento. No momento que estamos vivendo hoje, o que é disponível: tecnologias de calculadoras, fliperama, TV, vídeo, computadores, e-mail, Internet. E tudo isso tem que ser incorporado na educação, principalmente na educação matemática que é uma educação que é parte do sistema escolar que deve apontar para o futuro, e o que deve instrumentar o indivíduo para entrar no futuro, para participar do mundo que está se delineando. Isso não se faz sem tecnologia.”Um colega de profissão, disse-me, veementemente, num encontro de estudos: “Jamais deixarei meus alunos de 5a a 8a série usarem calculadora durante as aulas”. Tenho que respeitar sua opinião porque ele tem seus argumentos. No entanto, acredito que ele - como a maioria dos pais e profissionais da educação - defendem o uso de computadores, de vídeos educativos, de filmes, da Internet e de outros recursos tecnológicos. Então, porque discriminam a calculadora mesmo sabendo que mais importante do que fazer contas de maneira rápida e correta, é interpretar o problema e descobrir quais os passos para se chegar à solução? Por que não ficam sem essa maquininha na hora de fazer as contas do mês e de fechar as médias de suas turmas? Por que a utilizam para verificar quanto receberão de aumento? Por que todos têm uma em casa?Acho que o medo de que se esteja “emburrecendo” as crianças quando as ensinamos a usar calculadoras, está na falta de conhecimento do potencial educativo dessa simples e barata “maquininha de calcular” que pode ser também, uma “maquininha de pensar”.
Um comentário:
Achei muito importante essa reportagem, pois sou professor de Matemática da 5.ª série e estou sofrendo uma resistência enorme dos pais dos meus alunos em relação ao uso da calculadora.
Abraços
Prof.º Danilo Luiz
Postar um comentário